Prada, verão 2026 masculino

Existe uma ironia em trabalhar com moda enquanto o mundo se autodestrói da passarela para fora. Há quem se desespere, mas também quem tente subverter o pessimismo latente. Miuccia Prada e Raf Simons, os codiretores criativos da Prada, não poderiam prever os ataques dos Estados Unidos ao Irã, ocorridos menos de 12 horas antes do desfile de verão 2026 masculino da marca, na semana de moda de Milão. Ainda assim, a coleção é uma resposta a um cenário de guerra que vem se intensificando.

Prada, verão 2026 masculino. Foto: Getty Images

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Em entrevista a jornalistas, Miuccia Prada descreve a apresentação como “o oposto da agressão, do poder e da maldade que governam o mundo hoje”. Raf Simons completa: “Buscamos a calmaria, algo que nos deixa esperançosos. Liberdade para se expressar da maneira que quisermos”.

Nem sempre o nome dos desfiles importa. Nesta temporada, no entanto, a escolha de A Change of Tone (uma mudança de tom) parece traduzir bem o que se viu na passarela. É uma das coleções mais solares da etiqueta italiana nos últimos anos: a paleta de cores é vibrante, os shorts são micro e as calças flare, encurtadas. Algumas camisas aparecem alongadas, usadas sem a parte de baixo, enquanto blusas justas moldam o corpo.

Prada, verão 2026 masculino. Foto: Getty Images

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O cenário, com janela torta e tapetes florais, que remetem ao verão 2013 da marca, também ajuda a contar a história. Na época, Miuccia revisitou as serigrafias de Andy Warhol dos anos 1960 – década marcada por transformações políticas e sociais, como os movimentos estudantis, a segunda onda do feminismo e os avanços dos direitos civis nos EUA. Nas roupas, as mesmas flores aparecem mais cartunescas, como nos looks 21, 24 e 49.

O verão 2026 é sobre a nostalgia de um tempo que não volta, um impulso não-conformista, uma vontade de mudar de atitude. A Prada diz querer falar sobre um lugar imaginário, já que o real não tem sido fácil. Nele, os homens combinam meias coloridas com sapatos náuticos, chinelos de dedo com calças jogger e conjuntos esportivos com chapéus de ráfia. Eles deixam as pernas inteiras de fora e não se importam em coordenar tons destoantes. Há liberdade no vestir, uma ingenuidade quase infantil de quem se recusa a temer o que está além da porta.

Na mesma conversa pós-desfile, Raf Simons menciona o desejo de incorporar a inocência das crianças às peças. Miuccia encerra: “A Prada sempre foi sobre liberdade, mas desta vez é sobre ternura”.